19 janeiro 2012

- Transcrevendo...Lindo texto de despedida

1.O velho mineirim tinha um lindo lago nos fundos de sua enorme propriedade. Um dia decidiu ir dar uma olhada geral para ver se estava tudo em ordem. Há algum tempo não fazia isso.

No caminho, ele aproveitou o passeio e pegou um balde para colocar algumas frutas que apanharia no percurso. Ao aproximar-se do lago, escutou vozes femininas, animadas, divertidas entrecortadas por aqueles gritinhos que as mulheres dão quando estão felizes.

Aproximou-se, curioso, e viu um grupo delas. Eram lindas, gostosíssimas e tomavam banho no lago, completamente nuas.

Mineirim chegou mais perto e ficou ali em silêncio, deliciando-se com o maravilhoso espetáculo. Mas, como alegria sempre dura menos do que a gente gostaria, foi percebido, elas fugiram para a parte mais funda do lago, deixando apenas a cabeça fora d'água.

Mineirim continuou ali, queria ver mais. Então, uma das mulheres gritou:

- Nós não sairemos daqui enquanto o senhor não for embora!

Isso não abalou o Mineirim, que logo arranjou um jeito de trazê-las para a margem do lago. Tranquilo, respondeu:

- Calma moças, eu não vim até aqui para vê-las nadando ou esperá-las sair nuas do lago. Eu nem sabia que vocês estavam aí
.
Então, levantando o balde, disse:

- Eu só vim até aqui para dar comida ao jacaré... (com a colaboração de Alessandra Tunes)

2. Que sacanagem, Pira!

Você tinha de sair assim de mansinho pra se encontrar com Deus? Sem nos dar chance de ao menos nos despedir de você?

Que eu saiba, você não é o Mineirim, cuja piada transcrevi aqui, pra rir ao invés de chorar a sua ausência. Pus ela para homenageá-lo, porque você não gosta de tristeza.

Mas nem por isso deixo de registrar que você fez uma baita sacanagem conosco, ao ir embora de uma hora pra outra.

E não foi só com seus amigos, foi com a publicidade, que ainda precisa muito da sua energia, da sua inteligência, da sua lucidez.

Claro, eu sei que você não estava bem, desde que o Chico Socorro o convidou para fazer uma palestra aqui, e você disse que não podia vir, devido ao seu estado de saúde.

Aliás, foi exatamente por isso que não fui falar com você quando o vi, de longe, nos poucos minutos em que conseguiu permanecer no recinto do IV Congresso Brasileiro de Publicidade.

Naquele momento, respeitei seu estado de saúde e não quis cansá-lo, principalmente porque estava rodeado de um monte de gente, doida para beber na sua sabedoria.

Respeitei aquele momento porque esperava eu logo você recuperaria a saúde, mas, confesso, sinto hoje uma ponta de arrependimento, porque não previ que você ia aprontar a sacanagem de falecer agora.

Quase escrevi morrer ao invés de falecer, Pira, mas você não vai morrer nunca. Quem sabe se, conversando com o Homem aí em cima, você volta. Com a lábia que tem, você consegue.

Afinal, foi com essa lábia que você realizou o III Congresso. Eu sei porque, convocado por você, ajudei um pouquinho. E vi, de perto, as dificuldades que enfrentou e venceu as barreiras que foram sendo colocadas na sua frente.

Vê se dá um jeito aí, Pira, e para de sacanagem. Volta pra nós. A publicidade precisa demais das suas luzes.

Faz que nem o Mineirim. Chega na beira do rio da vida onde estamos todos nadando e nos ajude. Muitos estão se afogando. Outros, sendo comidos pelo jacaré da preguiça, da incompetência, da desonestidade, da lei do mais esperto.

Volta logo, Pira, venha iluminar a gente.

Quero que saiba, porém: se o Homem recusar nosso pedido, guardaremos para sempre as lições que nunca se cansou de nos dar. Para que, no mínimo você veja que as sementes que plantou germinaram e estão dando frutos.

Até um dia.

Elóy Simões é Publicitário, professor, jornalista e consultor


Nenhum comentário:

Postar um comentário